quinta-feira, 16 de junho de 2011

O barqueiro

Conto de Silzi Mossato publicado hoje no seu blog Lá Vem Maria

Do barqueiro ninguém sabia o nome, se é que o tinha. Todos o conheciam, mas ignoravam sua história. Sabiam apenas que um dia, num ano distante, instalara ali sua barca e iniciara sua atividade. Desde então, se mostrava incansável. Começava o trabalho ainda com as estrelas no céu e seguia ao ritmo do rio até que o crepúsculo restaurasse o brilho das mesmas. Repetia o rito ininterruptamente, sem obedecer a quaisquer regras sociais ou religiosas que indicassem descansos regulares. Somente os percalços naturais o desviavam. Chuva torrencial e ventos fortes levavam-no ao ócio.

A natureza, dizia, deve ser sempre respeitada. O enfrentamento nunca favorece o desafiante.

Os moradores da região simplesmente aceitavam suas regras e usufruíam do beneficio oferecido. Com o tempo, desistiram das perguntas pessoais e se algum desavisado insistia, as respostas eram sempre evasivas. Mas, quando um dos embarcados desatava a falar de si, encontrava o melhor dos ouvintes. Bastava que alguém, atrapalhado com a vida, aproveitasse a travessia para desabafar que o barqueiro sorria levemente, franzindo o canto dos olhos e da boca. Depois, com voz mansa e monótona contava uma de suas histórias, com desfechos que costumeiramente causavam surpresa ao interlocutor. Histórias que pareciam sempre inéditas. Coloridas e belas, não definiam seu interprete como possuidor de uma imaginação excessivamente fértil ou de uma vida rica em experiências. Somente algumas de suas frases eram constantes. Melhor a dor que nada, dizia afável com o ouvinte. Cuide de sua dor com carinho, ela o faz vivo, completava em algumas ocasiões. Às vezes, quando algum sofredor resistia, o homem franzia os olhos, estendia largamente a boca e dizia: ser infeliz é uma escolha fácil. Difícil é estar satisfeito.

E assim, desafiando os interlocutores ou apenas sendo solidário, o barqueiro, fazia da travessia sua vida. Ouvia dramas, pesadelos, histórias mórbidas e felizes; repetia suas frases e pronunciava conselhos e aproveitava a companhia das estrelas, águas e nuvens. As contemplou e apenas a elas contou seus desejos e sonhos. Fez do empenho uma rotina leve e harmoniosa, própria daqueles que não esperam chegar a qualquer outro destino.

Macon, poeta jovem, cheio de brilho e furor, chegou à barca numa tarde de chuva intensa e forte correnteza. O rio largo e sereno estava alterado. Passava feroz, carregando folhas, galhos ou qualquer outro elemento que ousasse tocar a água barrenta. Chegou apressado, ansioso para atravessar. De imediato interpelou o barqueiro, que sob um pequeno abrigo, aparentava contemplação.

- A barca está parada?

- Está. É perigoso atravessar sob o temporal.

- Espera longa?

- Impossível prever. Depende da duração e do volume da chuva. Para quem tem pressa, melhor seguir rio acima.

- Na estrada barrenta?

- A estrada é ruim e a pequena ponte oferece riscos, mas com cuidado chega-se ao outro lado em hora e meia.

As respostas claras não foram suficientes. O poeta, inquieto, busca resolver a questão a seu modo. E seu modo não incluía enfrentar longo trecho de lama e sob chuva. Além de que, desconhecia o trajeto.

- Sempre que chove a barca para?

- Se é chuva forte...

- Mesmo quando é passageira?

- Paro enquanto durar.

- E se chover durante uma semana?

- Espero.

- E as pessoas que precisam atravessar?

- Usam a estrada. Demora, mas é mais seguro.

- Nunca atravessou com chuva?

- Uma vez. Um menino ferido perdia sangue. Arrisquei. Travessia difícil, mas deu certo.

Volumosas baforadas tiradas com prazer do charuto escuro intercalavam as falas do homem enquanto o rapaz levava as mãos aos cabelos escuros e grossos, as colocava nos bolsos da capa que cobria o corpo, estalava os dedos e retomava as perguntas. Sem delongas, o barqueiro tomou a rédeas da conversação.

- Compromisso urgente na vila?

- Não fico na vila. Retornar a cidade.

- Alguém esperando?

O poeta gaguejou. Quis retrucar, dizer que não era da conta do homem. Respondeu a contragosto.

- O editor me aguarda. Tenho um bom livro...

- Huum, - resmungou, franzindo a testa. Sem cerimônia, voltou ao charuto, deixando o rapaz desconcertado. A urgência suplantava a razão e um matuto desconhecido apontava o desatino. Desconhecido e detestável. Mas não podia furtar-se ao fato de que com freqüência agia assim. O homem com seu charuto não esboçava denúncia ou repreensão. Satisfez a curiosidade e calou-se.

Macon, contaminado com silêncio do outro, cuidou de retirar a capa molhada. Pendurou o apetrecho num pequeno gancho e se acomodou num tronco que servia de banco. Esqueceu a pressa e descuidado, contemplou o estranho grisalho, rosto com rugas que mais pareciam marcas de riso que de velhice, porte ereto e mãos finas e longas. Homem distinto dos caboclos da região, segurava o charuto com elegância rara.

- Um charuto?- perguntou o barqueiro, vendo-se observado.

O poeta, que não avistara na região senão cachimbo e cigarros de palha, aceitou o oferecimento.

- Vicio?

- Posso viver sem ele.

-Por que não pára?

- Não tenho motivo pra parar. E uma boa baforada aguça a meditação.

- Meditar é verbo desconhecido nessas paragens.

- Comum é matutar. Ainda carrego marcas.

- Está ha pouco tempo na região?

O homem riu com estardalhaço. Depois, corrigindo a atitude, respondeu com cortesia.

- Sequer lembro o ano cheguei.

- Saudades de antes?

- Dos lugares onde estive, guardo algumas imagens enfumaçadas, mais nada.

- Mas os costumes permaneceram intactos?

O homem sorriu. A leveza com que termos e expressões engavetadas vinham à tona provocava diversão e incomodo. Longe ia o tempo das discussões ardentes, da ansiedade em expor a perplexidade frente ao mundo ilógico e injusto e da curiosidade veemente. O jovem recrutava o que havia doado ao rio, para que levasse em suas águas.

- Então, vai esperar? – arriscou o homem.

- Acha que seguindo pela estrada economizo tempo?

- Tempo? Não. Não há como. Ele será sempre o mesmo, tenha você pressa ou não. Cada coisa a seu tempo e cada uma dura o que tiver que durar. Nem mais nem menos.

- Boa filosofia.

- Ou crença. Na minha o tempo desconhece pressa ou lentidão. Ele é tudo e não existe. Tudo e nada, simultaneamente.

Macon desconfiava. Homem estranho. Não conhecia a luta travada fora dali, dia após dia. Não sabia da angústia de cada vitória, do esplendor de cada ganho. Tão longe das cidades não haveria de sonhar com sua medonha loucura. Mas não desejava uma discussão filosófica. Preferiu o silêncio ao embate.

O barqueiro atirou uma pedra à poça d’água e apontando para os círculos que alargavam sucessivamente, indagou:

- Conhece o infinito?

O rapaz o olhou, esquivo. O outro, ignorando a reação, continuou.

- Quem vive o cotidiano das cidades, aprende a igualar o inigualável. Tempo e o dinheiro, prazer e gloria, vida e fama. Pois ali está. Quer vasculhar o tempo? É só sonhar. Nele pode-se ir e vir. Soltar-se e voar. Seguir e voltar e novamente ir. Nada de alucinante ou amedrontador. Apenas círculos, simultâneos, sucessivos e constantes.

Para o poeta, os círculos estavam adjetivados: devaneios de um solitário, que caberiam na poesia, mas não na guerra editorial ou na briga pelo espaço na vitrine das livrarias.

- Acha loucura?

- Sequer sabe de onde venho.

- Pura ilusão. O corpo conta o que vivemos, o que pensamos, o que sonhamos.

A irritação talvez irrompesse em Macon, não fosse o rio de forte correnteza e água barrenta. O barqueiro o desnudava. Poderia contestar qualquer argumento racional, mas o outro assinalava o incontestável, ainda que despercebido. Procurou um xingamento, mas desistiu. Voltou ao silêncio. Fugiu do olhar invasivo atirando pedregulhos ao rio. Pra que enveredar por caminhos obscuros? Estava bem, desenrolando seus fios e construindo sua teia. Pra que mudar o rumo da vida? Atendia as pressões do editor, mas acumulava vitórias. Gostava do brilho das noites de autógrafos, das entrevistas e matérias nos jornais. Estava nas listas de melhores autores do ano, as vendas cresciam vertiginosamente e ele investia cada minuto naquilo que acreditava ser tudo que desejava. Pra que deixar que um insignificante desconhecido interferisse?

Cansado dos pedregulhos e do movimento repetitivo, o poeta descansou, prendendo os olhos no outro. Inalterado, o homem continuava apanhando pequenas pedras e as atirando, uma a uma, na mesma poça.

- Feche os olhos. Experimente os círculos - sugeriu repentinamente, sem demonstrar grande interesse.

Macon obedeceu, ainda que não pretendesse entregar-se aos delírios. Afinal, que simples seriação de círculos poderiam provocar?

Olhou fixamente para a poça, seguiu um e outro círculo, depois fechou os olhos. No escuro das pálpebras cerradas os círculos continuaram. Nasciam, alargavam, sumiam e, novamente nasciam, cresciam e sumiam. Pensamentos concretos impunham cotidiano, que entremeavam círculos que nasciam, alargavam e morriam.

Novo pensamento e após a interferência, novos círculos, repentinamente nascendo, infinitamente crescendo. Ao indicio de entrega, sobrepunha batalhas intermináveis, estratégias, vitórias. Mas a chuva de maior volume interferiu com seu ruído ininterrupto, repetitivo, relaxante. O percurso de cada pingo, da nuvem ao solo, da nuvem ao rio, da nuvem a poça d’água. Minúsculas ondas sendo formadas no torno. Nascendo, crescendo, deformando. Imediatamente, outro pingo, outra onda. Ondas circulares, pequenas. Ondas enormes, misturando-se a outras, minúsculas e novas. Ondas que se formavam rapidamente. Ondas que cresciam lentamente até perder a força. A velocidade nula. O tempo, desfigurado.

O barulho de um trovão interrompeu a viagem e o poeta recobrou o controle. A frente, a chuva, caindo com verdadeira fúria enquanto o rio empurrava um amontoado de cascalho, sem qualquer dificuldade. Ao lado, o estranho permanecia sem abrir os olhos.

- Assustado com o devaneio?

O rapaz não respondeu. Fitou-o firmemente, mas não o definiu. Era excessivamente céptico para crer em bruxos ou feiticeiros. Estava intrigado demais para ignorá-lo.

O barqueiro, abrindo os olhos, sorriu. Não contou nenhuma história, não proferiu nenhuma frase. Apenas sorriu e retomou o charuto. Macon o seguiu. Durante algum tempo nenhum palavra foi dita. Era só chuva, que de torrencial, fez-se amena. O vento ganhou leveza e o céu, luminosidade.

- A chuva está parando. Talvez possamos atravessar - apressou o rapaz.

- Olhe bem. Veja a correnteza. Seria imprudência.

- Fosse prudente, não estaria aqui!

A voz do rapaz era baixa e o barqueiro, compreendendo que falava para si mesmo, não contestou. Macon retomava a própria trajetória. Buscara aquelas paragens movido pelo prazer. Não pelo simples prazer de estar ali e sim pela possibilidade de transformar a viagem em mais uma obra, em mais uma criação e talvez, em mais uma vitória. Antes de partir, traçara um roteiro semelhante a um círculo e estava para completá-lo. Matas virgens, plantações, criações de animais, e, principalmente, as pessoas dos lugarejos eram seu foco de atenção. O jeito de viver de cada um ia se transformando em literatura da melhor qualidade. Poemas, em sua maioria. As conversas de armazéns e botequins ou o vai-e-vem contínuo das pessoas logo habitariam as páginas de livros, jornais ou revistas. A obra completa seria dividida com o editor de faro infalível. Mas o rio e seu barqueiro retardavam o encontro.

- O que parece empecilho, pode ser uma dádiva - voltou a interferir o homem.

- Dádiva?

- A conquista inesperada. O salto que ignorava, mas que já pode dar.

- Um enigma?

- Uma descoberta.

A estiagem trouxe a revoada de pássaros no céu que clareava. O barqueiro seguiu a revoada. No corpo quase inerte, sinais de profunda respiração.

- Belos pássaros. Basta que a chuva os deixe, ganham o céu. Sábios pássaros. Sempre sabem como e quando, ir e vir.

Macon o ouviu sem reagir. O homem retornou aos pássaros e a inércia. O rapaz pensou em seguir pela estrada, mas desistiu. Tomou o charuto. Entre uma tragada e outra, seguia os círculos de fumaça e entre círculos, os pássaros e os pensamentos. Outros círculos, o retorno dos pássaros, mais pensamentos e novos círculos e mais pássaros. Os pensamentos submergiram, o poeta esqueceu o charuto e segui as curvas das asas em suas trajetórias longas e livres. O ar inflou o peito, o corpo reagiu com leveza deixando os membros em suaves inclinações. Os músculos perderam o tônus, dando lugar ao vôo. Cerrou os olhos e entregue ao sonho, viveu o pássaro. No vôo via o rio e a mata desde o céu. Do alto, sobrevoou a si mesmo e desejando que os pés deixassem o chão, chamou: vem conhecer o infinito. Vem! É só desejo, sonho, entrega. Vem que é só o infinito, que ata e desata, transcende e amarra. Loucos e lúcidos, sensatos e disformes. Vem que é só dominar o ar, ir e voltar. Basta arriscar.

Macon arriscou e descobriu o desejo de se jogar nas águas do rio, de emergir buscando o ar para os pulmões e retornar ao céu, completamente livre. Descobriu o desejo quase incontrolável de entregar-se ao amor, sem fazer qualquer pergunta. O limite entre entregar-se e perder-se era tênue demais, mas o pássaro pedia para continuar. Mas o vôo pareceu não ter direção e amedrontado, abriu os olhos e evitou as aves e o rio. Mais uma vez ocorreu-lhe caminhar rio acima. Talvez fosse mais prudente distanciar-se daquele homem e daquele lugar.

- Se for agora vai chegar ao anoitecer - disse-lhe o barqueiro, ainda imóvel.

- Não posso permanecer aqui

- Tenho acomodações para dois. Amanhã já não terá correnteza e poderemos atravessar ainda com o alvorecer.

- Como pode saber?

- Já não há nuvens ao sul, de onde sopra o vento.

- Se o vento virar?

- Não há indícios.

O rapaz cedeu. Seria insano caminhar em estrada de lama até o anoitecer. Tomou a capa e a pequena bagagem e seguiu o anfitrião pela trilha que desembocou uma trilha, num caminho bem cuidado, ladeado por flores e pedras. Seguiram morro acima até o topo, onde uma pequena cabana feita em madeira bruta, plantada sobre meia dúzia de troncos grossos e irregulares, quebrava a paisagem. Um único vão, cortado por um pequeno balcão que marcava a cozinha. Um fogão à lenha, uma prateleira, poucas louças e panelas. Da varanda, no entanto, avistava-se o rio e o céu, atrelados a mata verde com focos coloridos de ipês de várias cores.

O poeta aproveitou o banho de água aquecida no fogão à lenha, experimentou o chá quente e comeu torradas com mel e queijo, esqueceu os temores e usufruir da quietude singular.

- Difícil compreender como um homem urbano pode viver aqui.

O rapaz esperava resposta, mas o homem sequer balbuciou silaba. Soltou vagarosamente a fumaça presa nos pulmões.

- Não é daqui, nem de lugar semelhante.

À constatação não deixou brechas a fuga, então respondeu com singeleza.

- É natural que aponte que não sou homem dessas paragens. Não trabalho a terra incansavelmente, não interpelo o tempo pra que interrompa a chuva é incessante, nada armazeno para mim ou para outros. Mas também não desejo seu mundo.

- E o mundo dos lavradores?

- Para viver como eles é necessário mais força que aquela a mim concedida. Por isso sou barqueiro e não produtor ou vaqueiro.

- Não tem desejo de voltar as cidades?

- Para sobreviver em suas cidades necessitaria de boa dose de agressividade. Já não disponho de tanto.

Macon dissecaria o homem, mas ele fez de todas as possíveis questões, uma só. E a respondeu lenta e preguiçosamente.

- Já não penso no lugar de onde vim nem naqueles por onde passei. Já não tenho um passado que me oriente ou um desejo que me conduza. É certo que fui jovem, afoito e presunçoso e que pensava dominar o conhecimento e a verdade. Mas a vida, tinhosa como é, fez com ficasse solto em seu balanço.

- Esse balanço...

- Se quer saber dele, é só sentir vento e ouvir o rio. Talvez encontre verdades que sequer vislumbramos.

Ao silêncio imposto, o poeta não conseguiu transgredir. Deixou que o vento o tomasse para um passeio entre cheiros de flor e mato. O barulho do rio, semelhante à cantiga velha e gasta, carregou-o para a correnteza. Aos poucos, abandonou o companheiro e foi ter com as águas. Através de seu corpo transcorreu o rio. Da cabeça aos pés, jorrou, levando dores, medos e angústias. A impetuosidade cedeu à entrega. A curiosidade ao desejo. Viajou entre pedras, impulsionado pela correnteza. Foi resgatado pelo pássaro que habitou seu corpo. Levado ao céu, mergulhou, submergindo, para em seguida, voltar ao ar e novamente ao rio. Ao retornar não soube do tempo. Sem dizer palavra, buscou a cama preparada para ele. Adormeceu em seguida. Teve sonhos leves e bons.

O alvorecer estava presente quando foi acordado pelo barqueiro. Depois de um desjejum leve, o seguiu rumo à travessia.

Na barca, o silencio compactuado. Sobre as águas do rio calmo, reflexos tímidos do sol acompanhavam os navegantes. Na outra margem, já em terra firme, Macon olhou o companheiro e sorriu. Transformado, deixava os olhos falassem de sua emoção. Era hora de despedida e o barqueiro atreveu-se a perguntar-lhe o nome.

- Macon - respondeu-lhe o rapaz. No rosto do barqueiro apontou palidez descabida, mas ele a ignorou e sorrindo, fez de um aceno sua despedida. Antes de partir, ainda cravou os olhos no poeta. Curto instante no qual viu seus próprios olhos, seus afetos sua história. Voltou a sorrir, saudando a vida, seu balanço e suas artimanhas.

De uma das margens Macon, o poeta, partiu certo de que olharia a vida com olhos de pássaro. Da outra, Macon, o barqueiro, seguiu, rumo a cabana vazia. Não voltou ao rio. Os dias seguiram e ninguém ouviu suas histórias ou suas frases. Também não viram seu sorriso nos cantos dos olhos e da boca. Diziam que havia adoecido. Ele, no entanto, espreitava quieto e cauteloso, o jogo da vida e seu delicioso risco.

Noites de inércia e deleite devam lugar à prolongadas vigílias enquanto sessões de autógrafos, o rosto nos jornais, pessoas e emoções até então esquecidas, tomavam o lugar dos pássaros e do rio.

A lua cheia era revivida quando um novo barqueiro substituiu o velho Macon. Dele, soube-se apenas que havia partido. Diziam alguns que fora em busca de antigos lugares e pessoas que insistiam em povoar seus sonhos. Outros insistiam que o dono da travessia, enveredara por antigos caminhos a procura de um jovem de nome igual ao seu. Desejava desvendar-lhe o feitiço.


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