terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Nosso medo


Não usa sapatos novos

Nem assoma na janela

O uivo de sete paredes

Nosso medo


Ruas mal-iluminadas

Pedra assentada no ombro

O que espreita na lida

O nosso medo


Signo de nenhuma estrela

Crucificada no erro

Em vestes corruptíveis

Nosso medo


Fala pelos cotovelos

Entre ossos e lama e aço

Cerra olhos e punhos

Nosso medo


Não tem a morte no rosto

Não oferece a outra face

Ferro e fogo do verso

O nosso medo


Cálice de vinho e veneno

Inverno de mitos sangrentos

Desperta mil vezes em cena

O nosso medo


É uma montanha de pedra

Ciência e deuses no Olimpo

Rosário de cal e areia

Nosso medo


Punhado de sal na têmpora

O dia que ainda não veio

Barco na névoa espessa

Nosso medo


Cova rasa do julgamento

A linha de qual horizonte

Minúcias de cal e areia

Nosso medo


São farpas e ferpas na unha

Estrada longa e estreita

Reza pra todos os santos

O nosso medo


Ferrugem no pó e nos pelos

O sangue de metal e fungos

A certeza de não sabermos

O nosso medo


Em doze motes de cera

Ferro de muros e cercas

Arame em torno do punho

O nosso medo